Por que a poupança rende tão pouco? Entenda de uma vez por todas

​Deixar o dinheiro na poupança é um hábito profundamente enraizado na cultura brasileira. Para milhões de pessoas, ela é sinônimo de segurança, simplicidade e o primeiro passo para guardar dinheiro. Essa percepção de porto seguro, no entanto, esconde uma verdade desconfortável: na maioria das vezes, a caderneta de poupança é uma armadilha silenciosa que corrói seu poder de compra.

​Enquanto você dorme tranquilo achando que seu dinheiro está protegido, ele pode estar, na verdade, perdendo a corrida para a inflação. Este artigo vai desmistificar de vez o rendimento da poupança, mostrar com números por que ela rende tão pouco e apresentar alternativas tão seguras quanto, mas muito mais rentáveis. Prepare-se para descobrir por que a segurança da poupança pode custar caro ao seu futuro financeiro.

​O motor travado: como funciona o rendimento da poupança

​Para entender por que a poupança rende pouco, é preciso conhecer suas regras. O cálculo do rendimento não é tão simples quanto parece e depende diretamente da taxa básica de juros da economia, a Selic. Desde 2012, o Banco Central definiu um sistema de duas camadas que, na prática, cria um teto para os seus ganhos.

​A regra dupla que limita seus ganhos

​O rendimento da poupança é calculado com base em dois cenários, dependendo do patamar da taxa Selic :

1. ​Quando a Selic está igual ou abaixo de 8,5% ao ano: O rendimento da poupança é de 70\% da Selic mais a Taxa Referencial (TR).

2. ​Quando a Selic está acima de 8,5% ao ano: O rendimento é fixo em 0,5\% ao mês (o que equivale a cerca de 6,17\% ao ano) mais a Taxa Referencial (TR).

​Atualmente, com a taxa Selic em patamares elevados, como os 15,00\% ao ano registrados recentemente , estamos firmemente no segundo cenário. E é aqui que mora o problema. Enquanto outros investimentos conservadores se beneficiam da Selic alta, a poupança fica "travada" em um rendimento fixo e baixo.

Atualmente, com a taxa Selic em patamares elevados, como os 15,00\% ao ano registrados recentemente , estamos firmemente no segundo cenário. E é aqui que mora o problema. Enquanto outros investimentos conservadores se beneficiam da Selic alta, a poupança fica "travada" em um rendimento fixo e baixo.

​Essa regra foi criada para evitar que a poupança se tornasse mais atrativa que os títulos públicos em cenários de juros baixos, mas o efeito colateral em tempos de juros altos é um rendimento desvantajoso para o poupador.

​O papel da Taxa Referencial (TR)

​A TR é uma taxa calculada pelo Banco Central que complementa o rendimento. Durante muitos anos, seu valor foi zero, não impactando em nada o retorno final. Recentemente, ela voltou a ter um valor positivo, mas ainda muito baixo, na casa de 0,17\% ao mês. Na prática, ela adiciona um valor pequeno ao rendimento, mas está longe de ser o fator que fará seu dinheiro render de verdade.

​O verdadeiro inimigo: perdendo para a inflação

​O maior risco para quem deixa o dinheiro na poupança não é o banco quebrar, mas sim a inflação. A inflação é o aumento generalizado dos preços, que faz com que seu dinheiro compre menos coisas com o passar do tempo. O rendimento que realmente importa é o "ganho real", ou seja, o quanto seu dinheiro rendeu acima da inflação.

​Rendimento nominal vs. Poder de compra

​Imagine que seu dinheiro rendeu 6\% em um ano. Parece bom, certo? Mas se a inflação no mesmo período foi de 5\%, seu poder de compra aumentou apenas 1\%. Se a inflação fosse de 7\%, você teria, na verdade, perdido 1\% do seu poder de compra.

​Historicamente, a poupança tem travado uma batalha difícil contra a inflação. Um estudo aprofundado revelou que, desde a mudança da regra em 2012, a poupança perdeu para a inflação em praticamente todos os anos. Houve períodos críticos, como entre 2019 e 2021, em que o poupador viu seu poder de compra ser drasticamente reduzido. O pior momento foi em outubro de 2021, quando a perda real em 12 meses chegou a alarmantes 7,59\%.

​Mesmo em anos recentes em que a poupança superou a inflação, como em 2022, isso se deveu mais a uma queda brusca e pontual da inflação do que a uma melhora no rendimento da caderneta. A longo prazo, a tendência é clara: a poupança não protege seu patrimônio da forma que você imagina.

​Alternativas para fazer seu dinheiro trabalhar de verdade

​A boa notícia é que existem investimentos tão seguros quanto a poupança, mas com potencial de rendimento muito maior. Eles são a porta de entrada ideal para quem quer sair da poupança e começar a investir de verdade.

​1. Tesouro Selic

• ​O que é: É um título público federal. Ao investir nele, você está emprestando dinheiro para o governo brasileiro, o que o torna o investimento mais seguro do país.

• ​Como rende: Sua rentabilidade está diretamente ligada à taxa Selic. Se a Selic está em 15\%, seu dinheiro renderá um valor muito próximo a isso. O rendimento é diário, ou seja, você não perde dinheiro se precisar resgatar antes de 30 dias, como acontece com o "aniversário" da poupança.

​2. CDB com Liquidez Diária

• ​O que é: Um Certificado de Depósito Bancário (CDB) é um título emitido por bancos para captar recursos. Você empresta dinheiro ao banco em troca de juros.

• ​Como rende: A maioria dos CDBs com liquidez diária rende um percentual do CDI, uma taxa que caminha lado a lado com a Selic. Um CDB que paga 100\% do CDI terá um rendimento muito superior ao da poupança.

• ​Segurança: Possui a mesma garantia da poupança: a proteção do Fundo Garantidor de Créditos (FGC) para valores de até R$ 250 mil por CPF e por instituição.

​3. Fundos DI

• ​O que é: São fundos de investimento que aplicam a maior parte dos recursos em títulos de baixo risco atrelados à Selic ou ao CDI, como o próprio Tesouro Selic.

• ​Como rende: O objetivo é acompanhar de perto a variação do CDI. É uma forma simples de diversificar com segurança, já que um gestor profissional cuida das aplicações.

• ​Segurança: Embora não tenham FGC, são considerados muito seguros, pois investem nos ativos mais seguros da economia.

​A diferença no seu bolso: uma simulação real

​Vamos ver na prática o quanto você deixa de ganhar. Considere um investimento de R$ 1.000 por um ano, com a Selic a 15\% e a inflação a 5,17%

Valores aproximados para fins didáticos. IR calculado com alíquota de 17,5% para o período.

​Os números são claros: mesmo pagando Imposto de Renda, o Tesouro Selic e o CDB entregam um ganho real mais de duas vezes superior ao da poupança. O seu dinheiro trabalha muito mais para você.

​Quando a poupança ainda pode fazer sentido?

​Apesar de tudo, a poupança pode ter um papel muito específico e temporário. Para quem está começando do zero e não tem disciplina para guardar dinheiro, ela pode ser o primeiro passo. É melhor guardar na poupança do que não guardar em lugar nenhum.

​Ela também pode servir para guardar uma quantia muito pequena para uma emergência imediata, aquele dinheiro que você pode precisar sacar em um caixa eletrônico no fim de semana. No entanto, para a sua reserva de emergência principal, as alternativas como o CDB com liquidez diária são muito mais indicadas.

​Conclusão: Dê o primeiro passo para investir de verdade

​Entender por que a poupança rende pouco é o primeiro passo para tomar decisões financeiras mais inteligentes. A sensação de segurança que ela oferece é uma ilusão que mascara a perda constante de poder de compra para a inflação.

​A jornada para fazer seu dinheiro trabalhar de verdade não precisa ser complicada. Começar pelo Tesouro Selic ou por um CDB com liquidez diária é um passo simples, seguro e que trará resultados muito superiores no longo prazo. Você não precisa de muito dinheiro para começar, apenas da decisão de colocar seu dinheiro para trabalhar tão duro quanto você.

​Se este artigo abriu seus olhos, não pare por aqui. A educação financeira é um processo contínuo. Continue acompanhando nosso blog para mais conteúdos que transformam poupadores em investidores de sucesso